quarta-feira, junho 30, 2010

Impressões Festival Casarão 2010 Parte 1.

Fui “convidado” por Vinicius Lemos, organizador do Festival Casarão, em Rondônia, para participar da cobertura do evento que aconteceu de 16 a 19 deste mês.
Enfrentei aproximadamente 8 horas de viagem para chegar até Porto Velho, cidade ribeirinha, para esta missão que tentarei cumprir com extrema imparcialidade. Tentarei.

Fiquei hospedado na casa do músico e amigo Thiago “TJ” Maziero, que faz parte do coletivo “PVH CAOS”, um movimento muito massa de bandas unidas para produção cultural.
A galera da PVH Caos comanda uma Web Radio, homônima, transmitiu todo o festival ao vivo.
Além de estarem no trampo da Web Radio, a galera da Caos, também esté envolvida em trampos como produção e sonorização, e eu, como amigo, estive também presente nas passagens de som.

Bom, vamos ao que interessa. Vale lembrar, que como músico, minha análise sobre as bandas, será um tanto quanto técnica.
A primeira noite do evento aconteceu no “Pirata`s Pub” um local extremamente agradável, com um ambiente apto para receber shows mais tranquilos. Ponto para a organização do evento. Porem, na passagem de som, os primeiros problemas começaram a aparecer, inclusive uma falta de comunicação quanto ao aluguel da bateria. Ponto negativo para a organização do evento.

A banda que abriu o evento se chama “Versalle”.


Foto: Raony Ferreira


O que se espera de uma banda caseira que abre um evento importante como o Casarão, é uma banda nova, jovem e muitas vezes inexperiente (leia-se ruim). Porém, desta vez foi diferente. Confesso que quando vi os garotos no palco, tive pensamentos como “Lai-vem” (coisa bem acreana mesmo). A partir dos primeiros acordes, a banda provou que eu estava enganado, mostrando audácia ao falar no microfone: “Galera, vamos chegar mais perto”. Coisa de gente grande. A banda não se deixou abater pelo nervosismo e mostrou um repertório recheado de músicas autorais (destaque para a ótima canção "Atrás da solidão"), mas mandaram também covers de Queens of the Stone Age e Placebo, bem executados. Vocais afinados e por muitas vezes dobrados.
Senti uma insegurança no baterista Igor, que parecia não estar bem ensaiado, atravessando em algumas músicas. Algo que pode ser melhorado com ensaios. As musicas seguiam influencias de bandas como: Interpol, Kings of Leon e bandas no estilo Britpop. A banda tem em torno de 8 meses de vida, e numa conversa com o guitarrista Rômulo, foi revelada uma vontade imensa de fazer um som nas terras de Chico. Quem sabe?!


A Versalle correspondeu ao nível do evento, mas o mais esperado da noite era um tal de Ricardo Koctus.
Foto: Raony Ferreira


Ricardo, nas horas vagas atua como baixista de uma banda chamada Pato Fu, conhecem? Koctus é um exemplo de simplicidade e de artista que se adapta as condições oferecidas e estrutura proposta. A banda que o acompanha, “Os impagáveis”, não pode acompanhá-lo, então a caseira "Semáforo 89", ficou encarregada de fazer o som com o cara.

Em uma conversa informal com Ricardo, descobri que ele e Santiago (Baixista da Semáforo 89) já se conheciam a mais de uma década. Então, Santiago angariou a sua banda, e ofereceu-a para acompanhar o show de Koctus, papel que exerceu com competência e uma dose de improviso, já que a banda só pode ensaiar duas vezes, contando com a passagem de som.
O Repertório de Koctus foi recheado de musicas autorais e interpretações do rei do rock, Elvis Presley. Apesar de um público pequeno – também, pudera quarta feira de madrugada – os presentes se fizeram realmente presentes, pedindo músicas e dançando a cada faixa.

O segundo dia de festival começaria com uma oficina de novas mídias, teoricamente, as 14:00h. Porem, contratempo vai, contratempo vem, a oficina começou cerca de 15:30. Um bate papo descontraído sobre a importância das novas mídias na divulgação de bandas e eventos independentes.

O segundo dia foi um pouco mais corrido do que o primeiro, já que o evento aconteceu em dois lugares diferentes, com três palcos.
Os primeiros shows aconteceram na praça do Mercado cultural de Porto Velho, onde se apresentaram bandas de heavy metal. Devo confessar que perdi os dois primeiros shows de metal, pois estava no Pirata`s pub dando um auxílio na passagem de som dos shows da noite. As bandas Hipnose e Devyron que me desculpem.

Simultaneamente aos shows de metal na praça em frente ao Mercado, aconteciam alguns shows, dentro do Mercado. Cheguei na apresentação da galera do “Expresso Imperial”, que conta com Henrique Riça na batera, Ramon no baixo e Marcelo na guitarra.
Foto: Raony Ferreira


O Expresso Imperial é uma banda instrumental que tem apenas 6 meses de formação, porem, o batera Henrique reside em Ji-Paraná (município de Rondônia). Sendo assim, a banda pouco pode ensaiar, tampouco tocar.
Fiquei surpreso ao saber que este foi apenas o quarto show da banda, que se apresentou muito bem e com muita segurança. Parecia uma banda que já tocava junto a alguns anos.
O som do Expresso passeia em ritmos nacionais como Samba, Baião, e as vezes arriscam até um frevo. O lado experimental da banda fica claro com a mistura dos estilos, que também tem influencias da musica caipira Americana, e folk rock, mas fazem isso de um jeito bem rondoniense. Eu classificaria a banda como um Jazz Brasileiro. Destaque para o baterista
Henrique Riça.
Foto: Raony Ferreira

Enquanto isso, do lado de fora, a banda “NEC” mostrava um som brutal e pesado. Pesado até o limite da estrutura de som que foi montada para as bandas de metal tocarem. As bandas que se apresentaram no palco da praça, foram prejudicadas pelas péssimas condições do som proposto. A NEC, além de ter sido prejudicada pelo som, foi também pela falta de experiência dos músicos. Estes sofriam do velho mau das bandas iniciantes de metal, que acham de sujeira e velocidade (sem conseguir ser veloz) é o que dão peso às musicas.
Guitarra “abelhuda”, baixo sem definição, e um baterista muito fraco técnicamente, atravessando e perdendo o tempo das musicas por diversas vezes. É inegável a qualidade do vocalista quanto esforço e presença de palco, porem ainda e preciso uma técnica de canto extremo.
Foto: Raony Ferreira
De volta ao Mercado, subia ao palco a minha conterrânea Caldo de Piaba. Banda de Saulinho Machado, Arthur Miúda e Eduardo Di Deus. A Caldo vem de uma extensa turnê pelo Brasil, segundo o próprio guitarrista, a banda já tocou mais de cinquenta vezes só esse ano, fato que se refletiu em cima do palco. Uma banda segura que prendeu a atenção do publico do começo ao fim. Com um som que tem a cara da nova cena independente, e com certeza caiu no gosto da galera por onde passou. Créditos ao parceiro George Naylor que deu uma força na iluminação dos caras. Avante, caldo!

Mais uma vez do lado de fora, subia ao palco a “Fucking good band, man!” Bedroyt. Marcada pela irreverência de seu Vocalista/Guitarrista Gustavo Erse, a “Bedroyt” reúne um ótimo repertorio para quem curte um heavy metal tradicional, sem frescura. Coisa de macho. Porem, com as limitações do som, devo dizer que a banda não conseguiu superar e infelizmente, não fez
um bom show. O publico que outrora se debatia nas rodas punk, estava estático e prestando atenção em outras atividades. Entretanto, ainda tinha um nicho que curtiu o “Fucking” metal tradicional dos “Fucking” Bedroyts.

Foto: Raony Ferreira

Os Do Amor (RJ) iniciavam as atividades no palco interno do Mercado. Eram a banda mais esperada pelo publico mais “leve”. A Pluralidade, foi uma marca registrada no espaço interno do Mercado, com três bandas que gostam de passear por vários estilos da musica brasileira, mas o Do Amor ia além. Uma banda muito experiente, cujos músicos também tocam e outras “gigs”, conseguem dominar o palco e fazer o publico dançar. Foto: Raony Ferreira
Uma diferença que foi bem perceptível perante ao ultimo show que vi da banda, foram os riffs pesados desferidos pelos músicos. A banda esta mais rock`n`roll, com mais influencias pesadas. Não chegam a soar realmente pesado, não é essa a proposta da banda, mas esboçam uma vontade de soar mais agressivo. Ótimo show.
Destaque para o cover da musica “Lindo lago do amor” de Gonzaguinha.

Agora era a vez da banda mais esperada pelo público mais “pesado” da noite.


A banda Mugo (GO) que estava escalada para tocar do lado de fora do Mercado, percebeu as fracas condições e optaram por tocar do lado de dentro. O mais interessante foi que a banda conseguiu manter o público que estava do lado de dentro, e trazer a galera do metal que estava do lado de fora. Com uma execução muito competente, os caras colocaram o público para fechar uma roda punk e bater cabeça.
Ponto negativo para a banda no quesito presença de palco, já que apenas o vocalista Pedro sentia realmente a vibração do show. Os outros integrantes da banda estavam meio presos e estáticos, mesmo tocando um metal extremo. Ponto positivo na linhagem das músicas, que não deixaram que caísse na mesmice, sem perder os instinto e a essência metal da banda.
Foto: Raony Ferreira

Infelizmente não vi os shows das duas primeiras bandas, mas como um aspirante a jornalista responsável que sou (hurrum) conversei com um amigo para saber a opinião do mesmo, sobre as bandas:
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O som estava muito ruim, aconteceram alguns problemas com a SEMA (secretaria do meio ambiente) e isso prejudicou bastante o show das primeiras bandas. (Raoni, 24 anos, Músico/Fotografo).

Saindo do Mercado, fomos direto para o pirata`s pub, onde ainda tinham mais dois shows para acontecer.
Desta vez, ao contrario de quarta-feira, o Pirata`s estava com um público bom.



Foto: Raony Ferreira

A primeira banda da segunda etapa foi a caseira Strep. A banda que nasceu como Sedna, hoje reside em São Paulo e tiveram que ter o nome mudado para Strep (É o nome que se dá à cordinha que prende uma prancha de surf ao pé do surfista).
Os caras pareciam ter um público já formado, porem, era um público diferente ao que estamos acostumados a ver nos festivais independentes. O som Pop Rock/comercial da banda arrancou aplausos da mulherada. Técnicamente falando, é uma boa banda, que tem um ótimo baterista. Conversando com o baixista Phablo, discutimos sobre o público alvo da banda. Phablo me revelou que a banda trabalha para um público feminino e teen, algo que devo concordar. Foi um show bem recebido por alguns, mas nem tanto por outros. Mas uma coisa é certa, os caras têm e fazem com qualidade aquilo que se propõem a fazer.

Foto: Raony Ferreira


Finalizado o show da Strep, foi a vez do Autoramas (RJ) RRRRRRRRRRock!
Apresentando em “Pvh” o seu mais novo show “desplugado” os autoramas arrancaram aplausos, danças e pedidos até o fim. Tocando clássicos da banda, versões da velha guarda e também uma inesperada versão dos Raimundos “I saw you saying”. O que pouca gente sabe, é que essa música tem a co-autoria de Gabriel Thomaz, vocalista da banda. Os autoramas deixaram o palco ovacionados pelo público bastante presente. Destaque para Bacalhau, baterista da banda. RRRRRRRRock!
Todas as fotos foram gentilmente cedidas por Raony Ferreira: www.flickr.com/raonyferreira