sexta-feira, outubro 26, 2007

Festival Varadouro

O início de uma articulação coletiva em prol da música acreana



O Festival Varadouro acabou! Mas não tudo que há por trás dele. Os shows foram ótimos, o som igualmente, a estrutura montada para um festival de rock foi surpreendente. Mas mais importante que a realização deste que é o maior festival da região norte do país, foi o pensamento de criação de um coletivo forte que visa, pós festival, consolidar a cena da música independente através de ações contínuas de estímulo dessa cadeia produtiva.

Várias “cenas” espalhadas pelo país já estão se consolidando. Cuiabá, com o Espaço Cubo, parece estar à frente da maioria. A mentalidade do “independente”, do “faça-você-mesmo”, já está mais incrustada na cabeça dos artistas.

As bandas já surgem com a mentalidade de querer tocar, criar suas músicas, querer montar estratégias de divulgação, de produção, enfim, de querer trabalhar para o processo, buscando com isso viver desse cenário tão promissor.

Oras uma cena consolidada se auto-sustenta no processo de criação, produção, divulgação e distribuição.

A cena acreana é um caso à parte no país. Nós temos o Festival Varadouro, um dos maiores festivais do país, mas não temos uma cena consolidada. A regra é que uma cena firmada e sólida, acabe “cuspindo” um grande festival. O Festival não é a “cena”, é apenas uma parte dela, é uma conseqüência dos esforços contínuos de seu desenvolvimento.

No nosso caso, o festival é a causa da cena da música independente local. Durante o período que o antecede, a cena ferve, funciona, acontece. E a maior parte dela, só durante esse período. Esse é o nosso maior problema. Temos que fazer a cena acontecer independente do Festival, fazendo-o funcionar simplesmente como uma prova vetor de mostra de uma produção pulsante e contínua, que se articula durante todo o ano. Como fazer? Trabalhando. Qualquer um pode ajudar.

O primeiro obstáculo é criar uma mentalidade junto às bandas de que a construção do processo é coletivo. Especialmente, por se tratar de um paradigma novo este do independente, algo que ainda está em formação.

Podemos perceber que alguns mecanismos são essenciais para uma cena independente de música. Uma banda tem que ensaiar, tocar e ser divulgada. Assim podemos individualizar três ferramentas que trabalham ligados umas às outras.

A primeira seria o lugar onde ensaiar, criar. Um simples estúdio de ensaio devidamente estruturado para receber as bandas, dar a oportunidade de se tornar uma banda. Fortalecer o seu trabalho.

Após essa etapa, a banda precisaria mostrar o seu trabalho, tocar. Shows, festivais, festas, apresentações. Shows periódicos sempre existiram, mas é necessário um lugar fixo para este propósito, uma casa de shows, por exemplo. Um espaço que dê lugar às bandas que tem a mentalidade do coletivo de criar a cena.

Ensaiou? Tocou? Mais eficiente que 100 pessoas vendo um show, seriam 500 lendo um texto afirmando que o show foi muito bom. A divulgação serve para difundir o produto a ser vendido, no caso, a banda.

Percebe-se que estes mecanismos estão totalmente integrados e trabalhando em conjunto. Um é conseqüência do outro e um é causa do outro. Quem toca é divulgado.

Quem for divulgado, tocará. Quem for tocar, terá de ensaiar. Essas três situações consolidam a cena. Quanto mais se toca, mais se divulga. Quanto mais se divulga, mais se agrega público. Quanto mais público, mais “cena”. Afinal, público é o combustível de qualquer mercado, produto.

A cena acreana converge para a criação destes mecanismos. Já podemos destacar dois deles funcionando em estágio inicial. O Estúdio de Ensaio do Catraia se propõe a oferecer um local onde as bandas possam ensaiar a um custo baixo. O Estúdio já tem a mentalidade da cena e sempre dá preferência àquela banda que aposta no seu trabalho autoral. A outra ferramenta é o Grito Acreano, funcionando como o centro de comunicação disposto a divulgar e informar tudo que acontece nessa “cena”. O que seria a casa de shows, não existe, mas mesmo assim, sempre vemos a nossa cena organizando festas e shows para que as bandas que integram esse circuito possam se apresentar e mostrar o seu trabalho. Funciona, mas de modo deficitário. O ideal mesmo seria uma casa de shows, com apresentações constantes para poder fervilhar a produção. E fortalecer a cena.

Essa é a meta da nossa cena, é construir esses mecanismos para intensificar a produção cultural. Fazer acontecer. Criar e segurar uma cena sólida.


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