Se eu não me engano, existem cerca de 150 bienais no mundo. A terceira mais importante do mundo acontece de 26 de outubro a 6 de dezembro em São Paulo, na Bienal no Parque do Ibirapuera. Mas o que é uma Bienal? Às vezes uma Bienal de arte mais parece uma invenção para qualquer um poder levantar a bandeira a favor da arte e dar assunto em conversas de bar. Não é muito incomum alguém falar a favor da arte sem nunca nem ter ido numa exposição, numa galeria, e muito menos na grande Bienal.
E a 28º edição da Bienal de São Paulo levanta justamente essa questão, qual a importância de uma Bienal? As bienais de arte nasceram em Veneza com o conceito de trazer o que há de mais moderno, mais atual e contemporâneo (o que podem ser coisas diferentes) em todos os aspectos da arte. Mas desde que a massificação da cultura aconteceu nos últimos 50 anos e que as formas de se fazer arte modificaram-se enormemente, surgindo várias maneiras de se reproduzir vários tipos de obra, ficou impossível trazer para uma Bienal tudo o que acontece de mais significativo nos ramos culturais. O conceito da bienal se torna então obsoleto. Faz sentido então gastar 8 milhões de reais (sendo apenas 1 milhão dos países estrangeiros, o resto do Brasil) na realização de uma grande exposição de arte que não faz mais sentido?
O conceito de arte é posto em xeque, e as divergências não são apenas conceituais, mas políticas e econômicas. Porque se uma bienal é o resultado da massificação da arte e da cultura, tudo que é massificado faz imediatamente parte do mercado, da economia, do capitalismo. Ivo Mesquita, o curador da Bienal desse ano, foi mais que ousado, foi decisivo. Dos três pisos do complexo criado por Niemeyer, o segundo ficará totalmente vazio. É a crítica de Mesquita ao sistema falido das bienais, é o modo dele de nos questionar conceitos e sistemas.
E a arte mesmo? Talvez a maior atração da Bienal desse ano (tanto metaforicamente quanto literalmente) seja o Test Site, obra do multinacional Casten Höller, que consiste em escorregadores que vão do terceiro e segundo piso ao térreo. E onde esta a arte nisso? Arte não é aquele negócio que você fica parado olhando, diz “oh, é tão lindo”, sem nem saber do que realmente se trata e vai embora? O conceito de arte moderna, talvez esteja prevalecido em trabalhar com emoções, é inquietar o observador, é de simplesmente lhe fazer pensar. Esse é o maior desafio da arte moderna. Isso é a arte moderna.
Fazendo companhia aos tobogãs surreais de Casten, há os 1800 desenhos de Allan MacCollum, que inspiram os visitantes a montar a partir deles os desenhos finais, e a inquietante obra do brasileiro Iran do Espírito Santo, uma fechadura espelhada, que experimenta brincar com o voyerismo, pois em vez de ver seu objeto de desejo, você vê a si mesmo. Além disso, há bandas, há vídeoarte, há dança e coreografias. Sim, a pintura faliu há muito tempo, as esculturas não são mais óbvias e o desejo de impressionar é substituído pelo anseio de fazer você se questionar.
E os museus onde ficam? Bem, eu não sei há quanto tempo você não vai a um, mas até eles se reinventaram. Ok, o Acre não é muita referência, mas em São Paulo temos o Museu da Língua Portuguesa, até mesmo o modificado Ipiranga, mas a maior exemplo mesmo é o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA pros íntimos), cujo próprio nome já parece conflitante, pois museu e arte moderna não parecem pertencer a mesma sentença sem um advérbio de negação.
E aqui no Acre esse trabalho de contemporaneidade me parece tão pouco explorado. O Sesc (atualmente um dos maiores programadores culturais do Brasil), realizou uma exposição de Darci Seles chamada “Música para os meus olhos”. Aliás, pouco divulgada até mesmo nos meios mais alternativos, mas as obras vão ficar em destaque até o dia 5 de novembro. É inegável que as ramificações da arte cresceram, mas então como trabalhá-las a ponto de que o ideal contemporâneo de pensar/emocionar funcione?
E eu me lembro frequentemente do Hélio Melo, foi a primeira pessoa que se dedicava a arte que eu conheci. Eu vi suas pinturas e ele cantava uma canção, enquanto tocava aquele violino desafinado, apontando pras crianças e dizendo “olha o Mapinguari!”. Pra cada um que ele apontava, as crianças ao redor riam. Hélio Melo com certeza não trabalhava com o conceito de arte moderna, muito menos parecia dar algum valor a isso, não sei, eu era apenas uma criança, mas ele com sua arte me fazia pensar, me emocionava e principalmente, me divertia.
Porque, parafraseando os Titãs, “a gente não quer só comida, a gente comida, diversão e arte”. A arte não pode apenas emocionar e refletir, mas nos divertir também. Misturem, inventem, renovem-se. O Festival Varadouro não é só musica, tem moda. O circuito A Cidade se Diverte me surpreendeu ontem quando ao chegar eu vi uma apresentação de teatro e não uma banda tocando. O fato é que a arte em si não pode ficar confinada nem ser discutida apenas em bienais, museus de arte moderna. O conceito de cultura, do contemporâneo, da arte, não é algo fixo, pelo contrário, é tão dinâmico, veloz, surpreendente e imprevisível quanto à descida por um tobogã metálico e transparente enfiado no meio de dezenas de obras e artistas.
E a 28º edição da Bienal de São Paulo levanta justamente essa questão, qual a importância de uma Bienal? As bienais de arte nasceram em Veneza com o conceito de trazer o que há de mais moderno, mais atual e contemporâneo (o que podem ser coisas diferentes) em todos os aspectos da arte. Mas desde que a massificação da cultura aconteceu nos últimos 50 anos e que as formas de se fazer arte modificaram-se enormemente, surgindo várias maneiras de se reproduzir vários tipos de obra, ficou impossível trazer para uma Bienal tudo o que acontece de mais significativo nos ramos culturais. O conceito da bienal se torna então obsoleto. Faz sentido então gastar 8 milhões de reais (sendo apenas 1 milhão dos países estrangeiros, o resto do Brasil) na realização de uma grande exposição de arte que não faz mais sentido?
O conceito de arte é posto em xeque, e as divergências não são apenas conceituais, mas políticas e econômicas. Porque se uma bienal é o resultado da massificação da arte e da cultura, tudo que é massificado faz imediatamente parte do mercado, da economia, do capitalismo. Ivo Mesquita, o curador da Bienal desse ano, foi mais que ousado, foi decisivo. Dos três pisos do complexo criado por Niemeyer, o segundo ficará totalmente vazio. É a crítica de Mesquita ao sistema falido das bienais, é o modo dele de nos questionar conceitos e sistemas.
E a arte mesmo? Talvez a maior atração da Bienal desse ano (tanto metaforicamente quanto literalmente) seja o Test Site, obra do multinacional Casten Höller, que consiste em escorregadores que vão do terceiro e segundo piso ao térreo. E onde esta a arte nisso? Arte não é aquele negócio que você fica parado olhando, diz “oh, é tão lindo”, sem nem saber do que realmente se trata e vai embora? O conceito de arte moderna, talvez esteja prevalecido em trabalhar com emoções, é inquietar o observador, é de simplesmente lhe fazer pensar. Esse é o maior desafio da arte moderna. Isso é a arte moderna.
Fazendo companhia aos tobogãs surreais de Casten, há os 1800 desenhos de Allan MacCollum, que inspiram os visitantes a montar a partir deles os desenhos finais, e a inquietante obra do brasileiro Iran do Espírito Santo, uma fechadura espelhada, que experimenta brincar com o voyerismo, pois em vez de ver seu objeto de desejo, você vê a si mesmo. Além disso, há bandas, há vídeoarte, há dança e coreografias. Sim, a pintura faliu há muito tempo, as esculturas não são mais óbvias e o desejo de impressionar é substituído pelo anseio de fazer você se questionar.
E os museus onde ficam? Bem, eu não sei há quanto tempo você não vai a um, mas até eles se reinventaram. Ok, o Acre não é muita referência, mas em São Paulo temos o Museu da Língua Portuguesa, até mesmo o modificado Ipiranga, mas a maior exemplo mesmo é o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA pros íntimos), cujo próprio nome já parece conflitante, pois museu e arte moderna não parecem pertencer a mesma sentença sem um advérbio de negação.
E aqui no Acre esse trabalho de contemporaneidade me parece tão pouco explorado. O Sesc (atualmente um dos maiores programadores culturais do Brasil), realizou uma exposição de Darci Seles chamada “Música para os meus olhos”. Aliás, pouco divulgada até mesmo nos meios mais alternativos, mas as obras vão ficar em destaque até o dia 5 de novembro. É inegável que as ramificações da arte cresceram, mas então como trabalhá-las a ponto de que o ideal contemporâneo de pensar/emocionar funcione?
E eu me lembro frequentemente do Hélio Melo, foi a primeira pessoa que se dedicava a arte que eu conheci. Eu vi suas pinturas e ele cantava uma canção, enquanto tocava aquele violino desafinado, apontando pras crianças e dizendo “olha o Mapinguari!”. Pra cada um que ele apontava, as crianças ao redor riam. Hélio Melo com certeza não trabalhava com o conceito de arte moderna, muito menos parecia dar algum valor a isso, não sei, eu era apenas uma criança, mas ele com sua arte me fazia pensar, me emocionava e principalmente, me divertia.
Porque, parafraseando os Titãs, “a gente não quer só comida, a gente comida, diversão e arte”. A arte não pode apenas emocionar e refletir, mas nos divertir também. Misturem, inventem, renovem-se. O Festival Varadouro não é só musica, tem moda. O circuito A Cidade se Diverte me surpreendeu ontem quando ao chegar eu vi uma apresentação de teatro e não uma banda tocando. O fato é que a arte em si não pode ficar confinada nem ser discutida apenas em bienais, museus de arte moderna. O conceito de cultura, do contemporâneo, da arte, não é algo fixo, pelo contrário, é tão dinâmico, veloz, surpreendente e imprevisível quanto à descida por um tobogã metálico e transparente enfiado no meio de dezenas de obras e artistas.
Discordo com algumas coisas, principalmente porque expressão artística alguma é capaz de falir. Quem escolhe a qualidade do que vai ser consumido é aquele que consome. A arte já nasce da emoção e sempre esteve por aí muito além das paredes de museus ou instituições, é só abrir os olhos.
ResponderExcluirA pintura não faliu, e nunca haverá de falir, Samuel. O que acontece na arte é a renovação das maneiras de expressão e, principalmente, do olhar. E é exatamente essa renovação que justifica o Museu de Arte Moderna, por exemplo. A idéia arraigada de que museus só expõem clássicos é tão antiga quanto o ideal de que arte é expressão intelectual dirigida a poucos. Importante a massificação da arte, porque significa, ao mesmo tempo, sua expansão. Ou arte é somente um quadro de Van Gogh? Acho que não.
ResponderExcluirAgora, se a discussão é acerca da validade da arte moderna, voltamos a uma questão primordial, que vem desde o início dos tempos: gosto é pessoal. Ser pseudo-intelectual também é escolha. Mas isso não descaracteriza o objetivo da Bienal, tampouco descaracteriza o fazer arte. Ela apenas se expande, mais e mais.
Assim sendo, a Bienal do Livro também estaria descaracterizada, devido ao advento da Internet e a constatação de que a leitura impressa está obsoleta. É correto afirmar isso? Claro que não. Só o meio que se modifica, a arte continua sendo produzida. Com qualidade pra mim, qualidade pra você, ou bosta pra qualquer um dos dois. O conceito de arte se expandiu, junto com seus meios de propagação e com a própria arte em si.
Meu caro, peguei chute no ovo, ui!
ResponderExcluir- 'na realização de uma grande exposição de arte que não faz mais sentido?'
- '...falida'
Arte naum tem limites tampouco limitadores.
Tenho que concordar em parte com as duas gurias acima. Naum gosto de ser repetitivo.
devo confessar que me expressei um pouco mal com relação a pintura ter falido... não é um contexto generalizado, é bem mais complexo, a forma de resumo é q nao foi eficaz... mas enfim, é a forma antiga da pintura que faliu... o sistema arcaico... o advento da fotografia e do cinema mudou absurdamente o conceito da coisa... as artes plásticas precisaram se reinventar e ainda há muitas revoluções por minuto nisso
ResponderExcluirquanto ao seu ponto em questão Italo, 'na realização de uma grande exposição de arte que não faz mais sentido?', eu expliquei que a Bienal nal faz mais sentido no contexto em que foi criada. não se representa toda evolução artistica em um unico evento como se representava ha 50 anos. dessa afirmação eu nao abro mao
ah, esse texto tem como objetivo discutir sobre arte mesmo, o conceito a fundo... foi por isso q eu o escrevi, vejo pouco essa discussão
ResponderExcluirEssa parte de "forçar" uma discussão é muito óbvia.
ResponderExcluirTípica do Fialho hahahahahahha!!!
Não vou te elogiar, senão isso tira toda a minha credibilidade na hora de implicar com vc na faculdade. No blog. No orkut, wherever...
ResponderExcluirConcordo que a discussão sobre arte, seja ela moderna ou não, está sendo cada vez mais exígua. Ao mesmo tempo, em que, o definido como, "alternativo" ganha mais notoriedade no cenário nacional.
Concordo ainda, na maior parte do que foi dito pela Daniela, e pela Mayara. O que também me deixa feliz, podendo ver a defesa da arte em todas as suas facetas, de maneira, tão... tão... romântica até.
Mandou bem Samu!
Antes de qualquer coisa: QUE TEXTO FILHO DA PUTA!!! (no bom sentido)
ResponderExcluirEstou te acostumando mal ao te elogiando tanto. HAUAHUA
Então...
As formas de expressão artística estão se reinventando. A pintura ainda está lá mas as novas formas de intervensão ganham cada dia mais os espaços pois a arte tem essa necessidade de se reinventar.
Acredito na decadência das bienais e no gasto absurdo e desnecessário para elas. Foram feitas inclusive ameaças de protesto por parte de grupos de pixadores e outros que são contra essa massificação e transformação da arte em mercadoria.
E concluindo com um pensamento até otimista, acredito que a divulgação e propagação das expressões artísticas no Acre irá melhorar sim, afinal, ja existe um movimento. Meio torto sim mas algo que só depende, por exemplo, das intervenções de blogs como esse pra crescerem.
Gostei do post... acredito que ele cumpre o papel de nos qustionar em nosso cerne quanto aos conceitos de arte que recebemos e ao conceito que temos e, ao fazermos este paradoxo, refletir sobre as formas em que todas as expressões artísticas são colocadas na contemporaneidade.
ResponderExcluirDiscordo da idéia de falência... mas acredito que é mais uma questão de entendimentos mesmo... a meu ver o texto não propõe a falência, mas em contraponto, questiona a permanência e esta dualidade requer uma discussão mais aprofundada...
Parabéns pelo texto e me felicita saber que temos mais um assunto interessante a debater no próximo encontro.. rs!
Defendo a arte conceitual, essa tal arte moderna, contemporanea, sim, acho deveras interessante. Os novos meios de se expressar devem sim serem utilizados e deles devem ser feitos arte.
ResponderExcluirJá "nasceram prontos". Há algo mais belo do que isso?
O mundo precisa de novos artistas, de pessoas que descubram esses novos meios de expressar.
Falencia da pintura, nada disso, vc usa photoshop? já usou mesa digitalizadora? Creio que a pintura da forma como conhecemos anda sendo reinventada aos poucos.
balela.
http://www.overmundo.com.br/overblog/subverter-tudo-construir-tudo
ResponderExcluirsubverter tudo construir tudo