sábado, março 07, 2009

Exclusivo: Watchmen - O Filme


Tive a imensa honra de participar de uma das primeiras seções de Watchmen no circuito nacional. E não sei se foi por esse motivo, e pela sala estar cheia de fãs, mas ao fim do filme, uma onda de aplausos tomou conta do Kinoplex e eu comecei a bater palmas também.

Watchmen tem como maior defeito para se tornar um sucesso duas coisas, primeiro, a si mesmo, por ser uma obra impossível de ser traduzida para as massas, segundo, os fãs xiitas, que não aceitam que a história em quadrinhos considerada mais infilmável de todos os tempos tenha sido finalmente... filmada. Mas eu tenho que admitir, Watchmen – O Filme é simplesmente a melhor adaptação de uma graphic novel da história do cinema.

Esqueça o viadinho do Batman, o pamonha do Superman e o emo do Homem-Aranha. Watchmen não é um filme sobre super heróis fantásticos lutando contra vilões complexos. Watchmen te faz questionar o heroísmo. Afinal, é aceitável que um homem saia encapuzado pelas ruas da cidade, cheio de apetrechos esquisitos, espancando pessoas e fazendo justiça com as próprias mãos? Watchmen te faz questionar o papel social do herói, mas principalmente, te mostra que no mundo real, se existissem heróis mascarados fazendo justiça pelas ruas, eles não seriam nada de especiais, seriam simplesmente humanos, simples exemplos da humanidade, e que esse papo de honra, orgulho, força é coisa só de “histórias em quadrinhos”. Super heróis no mundo real seriam mais um problema para a sociedade do que uma salvação.

O filme começa da mesma forma que a obra, com o assassinato do Comediante (cena de abertura fantástica, diga-se de passagem). Logo, temos um interlúdio mostrando momentos marcantes dos Homens-Minuto, a primeira geração de heróis mascarados em Nova York. Então vemos o herói Rorschach começando sua investigação pessoal para descobrir quem matou o Comediante, o homem que escolhera esse nome por achar que seria aquele a “rir por último”. Infelizmente, para o Comediante, quem riu por último, não riu melhor.

Rorschach acredita que há uma conspiração para matar heróis mascarados. Porém, é 1985, os EUA vivem o auge da Guerra Fria, e os heróis fantasiados estão quase todos aposentados, devido a lei Keene, que proíbe o heroísmo mascarado. Apenas três permaneciam na ativa, o Comediante, trabalhando para o governo, Rorschach, agindo ilegalmente e sendo caçado pela polícia, e o Dr. Manhattam, único herói a ter super poderes, um homem que é o ser mais próximo da concepção de Deus, controla a matéria, mata apenas com o olhar e se torna cada dia mais distante e alheio aos sentimentos humanos.

Também temos Daniel, o Coruja, antigo parceiro de Rorschach, que vive sobre o peso de seu próprio passado heróico; a linda Espectral, filha de uma outra heroína e que tem um caso com o Dr. Manhattam; e o homem mais inteligente do mundo, Ozymandias, que sabe que não adianta nada ser o homem mais inteligente do mundo se o mundo não passar de cinzas causadas por uma destruição nuclear de uma guerra que parece cada vez mais próxima. E entre heróis que não deixam seu passado de lado e aqueles que querem se livrar dele, entramos numa trama incrível de conspirações, traições, amor, violência e uma forma impensável de traduzir o que pertence ao bem e o que pertence ao mal.

Watchmen tem mais de 20 anos, é uma obra de Alan Moore e de imediato se tornou um marco na história dos quadrinhos por até então ser diferente de tudo o que existia sobre super heróis. Várias vezes tentaram levar a obra para a tela, mas ela foi considerada infilmável, até Zack Snyder (de 300) considerar ser capaz de traduzi-la.

O filme tem quase 3 horas de duração e é extremamente fiel a obra, tirando vários diálogos encurtados, algumas modificações para dar dinamismo (a paternidade de Espectral por exemplo, foi um tema reduzido para um único momento), o final, modificado e eu diria até melhorado, com tanto sentido quanto o original, além de uma sutilidade óbvia em demonstrar a opção sexual “diferente” de Ozymandias e acontecimentos mostrados de forma diferente na Antártida como a morte de seus funcionários, coisa que não existe nos quadrinhos. Algumas cenas são realmente memoráveis, como o passeio em Marte, o surgimento do Dr. Manhattam e as cenas de ação são absurdamente gritantes. Aliás, ação não é o que falta em Watchmen, há um equilíbrio perfeito entre a complexa narrativa e a pancadaria, com total destaque para a invasão na penitenciária, um dos melhores momentos do filme.

Claro, Watchmen não é perfeito. Quem não leu a obra e nem pretende fazer isso um dia pode sair xingando o filme, afinal, o grande público além de não estar preparado para questionar de verdade o papel do herói nem mesmo se imagina questionando tal fato. O filme também é bastante violento (censura 18 anos até no Brasil) e pessoas puritanas vão chiar mais ainda. Quanto a música, a mistura é bem interessante, desde Bob Dylan até My Chemical Romance.

Outro ponto interessante é que Watchmen é apenas aquilo que você vai ver. Mesmo que exploda de bilheteria, continuação é algo que nunca surgirá. É uma história com começo, meio e fim. E encaremos os fatos, num mundo onde Hulks, Homens de Ferro, Homens Aranha e Batmans tem material para continuações infinitas, o charme de uma história complexa e ótima em um único volume fazem do mundo de Watchmen algo mais fascinante do que seu próprio poder já lhe faz capaz.

PS: para quem estiver interessado, a obra completa de Watchmen se encontra na Biblioteca Pública Estadual, na área de quadrinhos, dá pra ler super confortável.

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