sexta-feira, agosto 03, 2007

Filomedusa no Dynamite

"Aí eu já estava na segunda cerveja, cabe comentar, estupidamente gelada e entre prosas legais e muita risada a segunda banda começou a tocar. Filomedusa que veio do Acre, que tem Daniel Zen, o tranqüilo e gente boa presidente da fundação cultural do Acre, em seu baixo. Que tem Saulinho pequenito e educado na guitarra. Que tem o preciso e caladíssimo Thiago na bateria (não vi a cor da voz desse sujeito dia nenhum do festival. Impressionante!) e que tem a Carol nos vocais. Mulher maldita!

Pra começar uma banda que coloca o baixo tão alto, mais presente e incisivo que a guitarra; ou não tem nada na cabeça ou tem um baixista muito bom. Filomedusa tem um baixista muito bom, e nem sei da cabeça deles. Frases diferentes, ousadas até, ritmos quebrados e tudo com a guitarra servindo de apoio para aquele baixão acreano indecente. Saulinho consegue fazer sua guitarra ser discreta sem ser ausente, contribuindo mais com a parte rítmica, compondo as texturas das músicas filomedusianas. Thiago toca bem pra diabo! Quanto baterista bom nesse norte.

Mas quer saber minha opinião inteira sobre a banda? Eu adorei Filomedusa! É bom pra caralho!!! Já havia algum tempo que eu não via um show e me empolgava tanto como aconteceu com o show desses acreanos batutas. E, além disso tudo que foi descrito no parágrafo anterior ainda havia Carol. Mulher desgraçada!!! Bandas que põe mulher pra cantar ou não têm nada na cabeça ou tem uma vocalista muito fantástica (e essa ironia pode me render pedrada. rs), e o Filomedusa é assim. Carol é pequena, magra, usa um vestidinho curto que insinua e esconde, botas sobem pelas pernas e ela usa de caras e bocas com habilidade teatral. É impossível não lembrar da Sammliz vendo Carol seduzir a platéia. Porque enquanto a Sammliz seduz, mas afasta, porque o som do Madame é uma porrada e o Ícaro - que sempre está ao lado - é forte pra diabo; Carol seduz e atrai porque o som do Filomedusa é insinuante, provocante, desafiador e Daniel e Saulinho são tranqüilos demais, e magrelos, vamos falar logo! rsrs

Carol é soberba. O risco que ela corre é de ficar arrogante e começar a "se achar", e só acho isso porque conversei pouquíssimo com ela. Parece ser extremamente simpática, mas nem precisa ser, porque canta daquele tanto. Que voz! Que harmonia! Que malícia! Sua voz e presença cênica extrapolam seu tamanho mignon, enchem a sala e o cavalo pendurado na parede até arregala o olho de madeira para apreciar aqueles sorrisos tantos.

E engraçado que Daniel e Saulinho usam os cabelos praticamente idênticos, uma coisa meio Devo com suas perucas emborrachadas, o que dava um visual muito divertido.

Uma banda que faz o set list (que eu tive a honra de trazer comigo) com as notas de suas músicas revela seu cuidado. Em "Batcaverna" - que é em Lá Menor - eles me fazem lembrar dos sons vanguardistas que São Paulo pariu nos anos 80 com vocais de samba de breque, bateria quebrada e precisa, guitarra criativa e o baixão marchando estranho indo e vindo. Na seqüência enfiam "O que eu sou" - que é em Dó Menor - um blusão de rasgar o coração do marido saudoso em campanha pelo norte. Ao ouvir esse blusão doído pensei em Nau tocando "Corpo Vadio", com Vange Leonel arranhando nossas memórias mais íntimas. Filomedusa faz isso. Filomedusa é muito bom! Filomedusa é muito bom!"


O texto é do Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei, sobre o Casarão que ocorreu semana passada em Porto Velho, o está no site do Dynamite.

Foto retirada do flog da banda

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A Filomedusa é Filomedusa mesmo.
    Tem poética, som e presença de palco grandiosa...
    Outra coisa referente a banda é a questão do histórico: nos primeiros show da Filomedusa o publico-acre queria ouvir a Caricatus (antiga banda da Carol, que fazia outro som) e hoje, nem tanto tempo assim depois, esse mesmo público e o já além-cena, como Eduardo Mesquita percebeu, se vê inevitavelmente filomedusiado.

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