sexta-feira, setembro 21, 2007

Grafiteiro faz arte no subterrâneo de São Paulo

TEREZA NOVAES
da Folha de S.Paulo


A água suja bate nos tornozelos e corre entre entulho e muito lixo --uma profusão de baratas circula pelas paredes. A luz do sol entra por bueiros e respiros, que exibem nesgas do céu. O labirinto de quatro corredores subterrâneos, cada um com três metros de altura e outros quatro de largura, aprisiona o córrego Cabuçu de Baixo, que passa sob o canteiro central da avenida Inajar de Souza (região norte de São Paulo), via de acesso à marginal Tietê.



É impossível pensar em outro lugar: "Estamos no inferno". José Augusto Amaro Capela, alcunha Zezão, 34, grafiteiro e artista plástico, já esteve lá várias vezes.

Nos últimos dois anos, Zezão inscreve sua arte pelos três quilômetros de galerias do Cabuçu de Baixo que deságuam no Tietê.

São formas abstratas em tons azuis, que compõem uma espécie de "site specific" --obra de arte feita para um ambiente específico-- só visto em fotos ou enfrentando a paisagem acima descrita.



As figuras que ele chama de "flop" são a redução de seu "throw up" (estilo de grafite que dá forma ao codinome do autor, no caso dele, Vício).

Apesar de ser literalmente "underground", Zezão exibe extenso portfólio em criação para publicidade e moda, além de ter experiência como arte-educador. Dentro da rede de tubulações, ele trabalhou debaixo da Vila Madalena, região oeste, e da av. Engenheiro Caetano Álvares, região norte.

"Já pintei fábricas abandonadas, favelas, debaixo de ponte e no lixão. São lugares esquecidos, que o governo não pinta de branco."

Sua primeira exposição individual será inaugurada no dia 15, na galeria Choque Cultural (r. João Moura, 997, tel. 0/xx/11/3061-4051), com objetos, pinturas em tela e nas paredes, além de registros do trabalho sob a cidade.

A formação artística de Zezão percorreu as diversas instâncias da intervenção urbana: a pixação, o ataque a vagões de trens e o grafite mural, como o painel do Instituto Goethe, na av. Sumaré.

"Já fui punk, mas hoje quero mandar uma mensagem positiva para a cidade. A gente já vive nesse caos, quero trazer algo benéfico para as pessoas", afirma.



A primeira vez que desceu ao subterrâneo da cidade, Zezão vivia um inferno pessoal. Estava deprimido, a mãe doente de câncer e o ganha-pão era o emprego de motoboy. Tinha 28 anos.

"Entrei porque de cima via as paredes de concreto e achei a textura bonita para as minhas pinturas. Amarrei uns sacos plásticos por cima do sapato e desci", lembra. "Descobri a paz, o silêncio."

Na expedição que fez acompanhado da reportagem da Folha, na última quarta, o artista vestia um equipamento apropriado, um macacão acoplado a galochas.

No meio das pistas da Inajar de Souza, na altura do número 1.000, o acesso à galeria subterrânea não tem nenhum tipo de proteção. Trata-se de uma rampa de dez metros de extensão, coberta de mato e entulho, usada por moradores de rua como banheiro.

Com duas lanternas, foi possível andar 600 metros, desviando de dois cachorros mortos, brinquedos, tijolos e pedaços de móveis.

O barulho de água era quebrado pelo estrondo dos carros passando sobre tampas de bueiro e alguns fogos de artifício, lá em cima o Brasil goleava a Argentina.



No pequeno espaço coberto, outro acesso da galeria, fica a "casa" da catadora de recicláveis Teresa Biscali, 43. Há 12 anos na rua, ela vive há quatro no local com o companheiro e seus "filhos", dois cachorros. Pouca coisa sobrou depois da forte chuva de maio.

Como qualquer outra pessoa, dona Teresa ficou intrigada com a obra de Zezão. "Por que você faz isso aqui? Você não tem medo?"

"É uma forma de mostrar para as pessoas o estado das coisas [ele aponta para um pilar de concreto cheio de entulho]. O que adianta limpar o rio se tudo vai parar lá?", questionou. "Venho para fazer minha arte sem ninguém encher o saco, transformar essa galeria numa galeria de arte." Dona Teresa fez que sim, mas no rosto a imagem ainda era de dúvida.



Fonte: Folha Online - Ilustrada - Grafiteiro faz arte no subterrâneo de São Paulo - 03/07/2005

Conheça mais o trabalho do Zezão visitando o Flickr: Fotos de zezao.



Dica do Lucas. Valeu, aqui no blog é assim, é de todo mundo.


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4 comentários:

  1. A minha sexta-feira começou bem, Neto: as duas matérias do gritoacreano trouxeram uma energia muito boa... Estou curiosa pra ver o livro da Val e o trabalho de toda essa moçada, que tá chegando pra fazer diferença... O grafite é lindo pra c...!!!!
    Axé!
    Eurilinda

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  2. Anônimo10:13 AM

    Ouulha..
    eu já tinha visto alguma dessas fotos lá no album do Lucas, no orkut..
    massa msmo..
    =)

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  3. Anônimo2:34 PM

    Boooa Adaildo, Zezão e um puta artista.
    Precisando estamos ai.

    Abraços.

    ahh, na hora que eu tava atrás dos Mamelucos, surge o post mostrando os vídeos dele, Ogrigado. Se tiver alguma música deles made-me.

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  4. Anônimo8:28 PM

    Muito muito bacana suas pinturas e arte são muito criativas e mostram uma forma de fazer grafite são massa mesmo...Valeu continui inovando!!!Eliesio de Belém do Pará.

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