quinta-feira, junho 05, 2008

Opinião de três acordes

Hoje, 04 de junho, completa um mês do término da IX edição do Festival Casarão, realizado em Porto Velho de 30 de abril a 04 de maio (palestras + shows). Neste e nos próximos dois posts, serão expostas idéias que andei remoendo, repensando, mas seria inevitável não posta-las . Que venham as críticas:

OPINIÃO
O que veio e o que mudou?

Ao fazer análise do que passou de lá para cá, podemos constatar algumas mudanças em Rondônia, dentre as quais podemos destacar a criação de um novo coletivo cultural na cena porto-velhense (Raio que Uparta) e o surgimento do blog Resenhas Grindcore.

Sobre o Raio... acredito que era uma tendência natural acontecer, algo que era constatado em conversas pré-Casarão, devido à idéias que surgiam (divisão de núcleos de forma horizontal, beradeiros discos, etc.), mas não eram aplicadas no Projeto Beradeiros – Marcos Felipe, um dos idealizadores do novo coletivo era o presidente do projeto na época do Casarão – por motivos que em breve serão esclarecidos em entrevista com integrantes do ... Uparta.

Quanto ao Resenhas Grindcore: ele surgiu em resposta à quantidade de resenhas ‘indies’, as quais os idealizadores do RG dizem ser tendenciosas e artificiais. O blog de cara chamou a atenção pelo nome e pela maneira direta de escrever de seus autores, com boas matérias no início, que incluíam a questão do teatro de Porto Velho, a diminuição de recursos para o SESC voltados à cultura, uma boa cobertura de shows (SESC, 16/05). Mas o que veio para ser diferente acabou ficando igual quando da crítica do blog à banda Strep (ex-Sedna). Para contextualizar, a Strep é uma banda que inclui em sua sonoridade elementos de pop e ska (há controvérsias) e que em breve lançará seu trabalho. Desde quando se chamava Sedna e era de Porto Velho (agora é do Rio de Janeiro) sabe-se lá porquê era banda “non grata” a muitos integrantes do Beradeiros. Com certeza alguém vai lembrar lá nos comentários. Pelo fato de divulgarem músicas que eram da Sedna, um pouco antigas já, é compreensível a crítica do blog, mas acredito que conforme o texto vai se desenrolando e piadinhas, críticas superficiais vão surgindo, aparece uma contradição. Uma piada só tem graça quando quem conta e quem ouve conseguem rir juntos. Ou seja, o resenhas veio com um diferencial, mas em determinado momento caiu no mesmo ponto negativo que o fez surgir.

O último e polêmico texto (afinal é o resenhas grindcore) foi o “Circuito Fora do Eixo e Rondônia”, de autoria de Elton Costa (Rádio Ao Vivo – Beradeiros) que basicamente repercute a passagem do Circuito Fora do Eixo e Espaço Cubo em terras rondonienses, durante o Festival Casarão, além de fazer uma análise do possível futuro da cena local e regional. Elton questiona a aplicabilidade dos conceitos do Circuito Fora do Eixo, sinceramente visualizei uma propaganda da Assembléia Legislativa no texto, como que se dissesse “Rondônia não é terra de indie”. De fato, o que se sobressai em Rondônia são estilos como metal e hardcore, coisa que justamente o pessoal que vem de fora, principalmente Sudeste, está saturado. Partem também desses estilos as iniciativas de fomento da cena local, sejam elas tímidas ou não. Mas é natural, por exemplo, sobressaírem bandas como Recato e Hey Hey Hey, que escapam do lugar comum e apresentam propostas diferentes. Nada contra o hardcore, até porque minhas influências partem daí, mas o pessoal tem que contextualizar, entender e assimilar críticas, senão todos ficamos parecendo crianças que não conseguem chamar a atenção por bem, então, abrem o berro.

O Resenhas Grindcore revela o quão antagônica é o Projeto Beradeiros e a cena musical de Rondônia: temos gente de potencial, ideologias fortes (muitas beiram o radicalismo) e um humor ácido e sincero, que se não for bem dosado, pode se tornar pastelão.

Do meio para o final

Casarão, o Festival

Bom, o que era para ser escrito sobre as bandas já foi, bem ou mal relatado diga-se de passagem, então para dar continuidade à opinião em três partes é hora de analisar o festival Casarão.

Vinicius Lemos, organizador do festival, procurou diversificar na hora de escolher os convidados. Da imprensa vieram representantes de veículos midiáticos como Rolling Stone, Revista Trip, Urbanaque, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Amazon sat, Jornais do Interior e Senhor F (que não pôde comparecer), além da cobertura local. Da parte imprensa a cobertura que se diferenciou foi a da Amazon Sat, feita pelo repórter cinematográfico Orlando Júnior, tanto pela qualidade do material veiculado quanto pela repercussão que teve, principalmente na região Norte, agregando valor regional ao festival (a Amazon Sat pode ser vista, em canal aberto, em toda Amazônia Legal).

Podcasts a parte, acredito que a cobertura geral do Casarão foi positiva, inserindo o festival no circuito de festivais do Brasil, firmando mais um nome do Norte na mídia especializada, créditos também ao Projeto Beradeiros que com seu Festival também fizeram parte da história de “atração” da mídia, mas há de se firmar que o Casarão desse ano trouxe a consolidação. Enfim, Rondônia, bem ou mal, já faz parte do mapa nacional de música independente.

A vinda de produtores da ABRAFIN e Circuito Fora do Eixo também foi ponto importante, senão o mais, para a consolidação do nome de Rondônia no Circuito. Cerca de 12 festivais (incluindo os do interior de Rondônia) estavam representados ali, reunidos para debater a nova realidade musical brasileira.

Os debates e seminários

No dia 30 de abril começaram o ciclo de debates e os seminários. Infelizmente, por motivos de saúde, Hélio Dantas não pôde estar presente para dar início aos trabalhos, contextualizando a história do Casarão, que dá nome ao festival, assim como a história de Porto Velho, consequentemente a de Rondônia. Começaram os debates os irmãos Bruno Dias e Cirilo Pereira, com a mediação de Pedro de Luna. O tema: mídia independente. O auditório da Biblioteca Francisco Meirelles estava bem ocupado, mas logo se saberia que a maioria das pessoas estavam ali para pegar as credenciais das bandas. Cabe dizer que haveria o debate sobre a cena rondoniense, mas ficaram ali só as “figuras marcadas” que entre futebol e viagens, vêm conversando a muito tempo sobre isso, faltou “platéia” para render mais o debate.

Então, no dia 01 de maio, FERIADO (dia do trabalhador) houve a rodada mais importante de debates, começando com o “momento atual da música brasileira” com Jomardo Jomas e José Flávio Jr. tratando sobre como está a música brasileira, independente ou não, com foco nos festivais de rock brasileiros. Logo após veio o “mesão” que reuniu os debates sobre a ABRAFIN e o Circuito Fora do Eixo em um só momento. Os dois Pablos, Kossa (Fósforo Cultural) e Capilé (Espaço Cubo), iniciaram a mesa contextualizando o Circuito Fora do Eixo e o que o mesmo trouxe de novo para o cenário brasileiro, como a inserção dos conceitos da economia solidária no mercado da música, a criação de moedas complementares (como o Cubo Card), a circulação de bandas, o conceito do artista igual a pedreiro, pontos de cultura, etc. E vieram Fabrício Nobre (MQN e ABRAFIN) e Lariú (MM Records) tratando da Associação Brasileira de Festivais Independentes, como foi criada, o que está sendo feito em 2008 e o que será feito em 2009, as novas articulações, entre outros assuntos.

Vamos aos fatos:

O pouco quorum, após a entrega das credenciais das bandas no dia 30 de abril é compreensível, afinal era dia de semana, muita gente não vive de rock.

Mas, no dia 1, feriadão, um bom programa seria assistir aos debates. A maioria das pessoas com quem conversei citou que deixaram de participar da rodada por terem compromissos de ensaio com suas respectivas bandas, até aí compreensível, nada mais que natural. Só acho complicado o fato de também a maioria que faltou serem exatamente os que mais questionam os métodos adotados pelo circuito.

Frustração igual tive no Intercâmbio Rock ano passado, lá em Ji-Paraná, quando foram convidados vários agentes ligados a coletivos organizados ou bandas para debater sobre o rock de Rondônia, principalmente à movimentação do interior, onde muita gente se acha “injustiçado” por não ter espaços para tocar, mas não procura se interar o que acontece em cada cidade, para poder abrir a possibilidade de contatos. Só aparecem para reclamar que existe panelinha nas cidades, e entre elas, ou então falam que não apoio à cultura. Típico de quem não quer nada sério e para complicar quer atrapalhar a vida de quem está na batalha, não importando, aqui, a forma de trabalho.

O Festival Casarão deste ano trouxe uma boa oportunidade de debate, infelizmente não foi aproveitada muito bem por quem é daqui. Quem veio de fora, para conhecer in loco a cena rondoniense, levou algumas conclusões para seus pares em suas respectivas cidades. Podem até ser conclusões um pouco fora do que é a realidade local. Mas quem poderia contribuir para um debate mais completo não compareceu.


Nettü Regert, Coletivo Vilhena Rock e Enmou.
Texto retirado do blog Vilhena Rock Zine.

4 comentários:

  1. acredito que opiniões diversas qualifiquem esse processo cultural que a música vive.

    Só não acho que devemos criar "partidos independentes da música" aí iremos cair na vala comum, mais uma vez.

    Talvez o Cubo não seja esse monstro, como acredito que não seja. Os caras são gente boa e dão a cara a tapa.

    Mas é o sinal que eles andam emitindo, que por sua vez vai repercutindo em quem apóia o processo cubista. E quem os apóia é bitolado, esse é o problema.

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  2. Anônimo4:50 PM

    talvez, você que seja o bitolado.

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  3. Adoro os anônimos, se escondem por tão pouco.

    :D

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  4. Anônimo5:33 PM

    Poesia sobre o "Tigre de Papel"

    Legal que existam diferenças,mas definitivamente,o único movimento que conseguiu aglutinar diferenças foi o Projeto Beradeiros. Quanto a isso, vide bandas de Heavy Metal, Reaggea, Hard core e punk, pop e até indie.

    Agora surge o bloquinho do "eu e mais nada".

    Espero que milhões de coletivos surjam - afinal isso já virou fokismo barato.

    Não quero saber se é de Fora ou do eixo, quero ver só esse pessoal trabalhando.

    Sinceramente não me importa essa briga besta,mas o fato de não simpatizar o fora do eixo não significa que não torça para que seus objetivos sejam alcançados, muito menos que deixarei de trabalhar em prol de uma cena que já existia, que existe e que continuará existindo, com eixo ou sem eixo.

    Infelizmente, as resenhas da turminha pró-eixo, evindenciam uma ojeriza ímpar a alternativas à propostas cubistas. Isso é a representação de uma cangalha nos ombros e uma espora no couro.

    Quem quiser negociar tem que sentar a mesa e ver o outro como parceiro, olho no olho.

    Infelizmente tem gente que prefere engrandecer o nome de quem o domina. Alardeando a troca de conhecimentos e parcerias, tecnologias que, sinceramente, prefiro aprender de um terminal virtual na solidão do meu quarto,ou numa conversa de amigos do bairro, da universidade, entre os amigos.

    Aí se justifica o surgimento dos anÔnimos - covardes, desonestos e, realmente, muito bitolados.

    Não comungo com estes, nem faço questão de comungar.

    MEU NOME É ISAAC RONALTTI

    Aprende ANôNIMO!

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