Já estão rolando pela internet dezenas de listas de melhores e piores filmes de 2008. Beleza, super clichê, eu mesmo estava pensando em fazer a minha. Esse foi um ano em que Hollywood tomou um fôlego de produções, mas empobreceu ainda mais em roteiros e originalidade, nem mesmo o cinema alternativo europeu teve destaques tão grandes quanto nos últimos 5 anos.
Ainda assim, o cinema não enfraqueceu em 2008. Pelo contrário, talvez seja o público que não mudou. As ramificações do cinema cresceram. Festivais internacionais grandes perderam força em detrimento de festivais de porte médio, com apresentação de produções artísticas impecáveis e idéias originais com baixo orçamento e feitos na base de muita luta e suor. No Brasil, Tropa de Elite pode ter sido o filme do ano, mas poucos são aqueles que conhecem os grandes curta-metragens, como o vencedor do festival do Youtube Project Direct, Laços, ou o vencedor do Teddy de melhor curta metragem, Tá.
Com base no cinema de qualidade que pouco repercute nas massas, trago para vocês uma lista com os 10 melhores filmes de 2008 que você NÃO assistiu. Uma forma diferente de divulgar obras cinematográficas que não devem deixar de ser assistidas pelos amantes do cinema, ou por quem simplesmente curte algo fora dos padrões assim como os conhecemos.
Obs: nem todos os filmes citados foram produzidos e lançados em seus países de origem em 2008, mas a repercussão internacional e principalmente dentro do Brasil, foi esse ano.
10º Lugar – The Science of Sleep (A Ciência do Sono)
Do mesmo diretor do aclamado Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Michel Gondry, recebeu críticas bastantes pesadas junto ao lançamento. Eu entendo, afinal, Brilho Eterno é beira a perfeição além de sucesso total, o que causou uma expectativa grande junto a The Science. A trama gira em torno de Stephane (Gael García Bernal) um jovem que sofre de um distúrbio entre realidade e fantasia, pois seus sonhos passam a se confundir e alterar sua realidade. Sua vida real é frustrante, mas em seus sonhos, ele se torna um apresentador de TV que explica como funciona sua “ciência do sono”. Stephane tenta viver um romance com Stephanie (Charlotte Gainsbourg), sua vizinha, mas ela não esta disposta a encarar alguém como ele. O filme começa complicado e com narrativa estranha, mas depois a coisa flui bem e seus diálogos se tornam ásperos e bem situados. É um filme doce, cheio de ótimos efeitos especiais, que mistura romance e conto de fadas, além de inteligência e questionamentos internos. Não chega aos pés de Brilho Eterno, mas ainda assim recomendo.
9º Lugar – Rec (Rec)
O espanhol Rec foi um dos maiores destaques mundiais do terror nos festivais internacionais. O filme pega um elemento clássico dos filmes de terror, zumbis, e mistura com A Bruxa de Blair. O resultado é um filme assombroso e assustador até para os mais acostumados com violência na tela. Angela (Manuela Velasco) é apresentadora do programa Enquanto Você Dorme, ela vai gravar uma matéria sobre o dia a dia dos bombeiros com seu cinegrafista Pablo (Pablo Rosso). Ao contrário do que se pensava, o dia a dia dos bombeiros é um saco, Ângela se frustra, até atender uma emergência num prédio, uma senhora idosa causando problemas, ao chegar lá a idosa ataca mortalmente um policial, o prédio é colocado em quarentena, todos os moradores entram em desespero e o inferno começa. Com ótimas atuações e uma trama muito interessante mesmo usando o convencional, Rec foi uma grata surpresa para fãs de filmes de terror.
8º Lugar – Savage Grace (Pecados Inocentes)
Intrigante, excitante e nauseante. As melhores palavras para definir Savage Grace. É difícil explicar sua trama. Somos bombardeados primeiramente por um classicismo cercado de bom gosto, requinte, glamour e ostentação, mas logo tudo isso se mostra palco para uma trama doentia e bizarra de uma família decadente e extremamente auto destrutiva. Bárbara (Julianne Moore em seu mais incrível desempenho) e Brooks (Stephen Dillane) são ricos e estonteantes, freqüentam a alta sociedade, mas em quatro paredes ele a despreza e ela só tem atenção para o filho Tony (Eddie Redmayne). Ao longo do tempo vão se mudando de Nova York para Paris, de Paris para os balneários espanhóis, da Espanha para a Inglaterra. Em meio a tudo isso temos traição, separação, homossexualidade, sexo a três, incesto e, claro, morte. Tudo isso baseado em uma incrível história real. Um filme de época moderno e com ótima trilha sonora.
7º Lugar – Chinjeolhan geumjassi (Lady Vingança)
Só uma coisa pra simplificar o quanto esse filme é bom: é do mesmo diretor de Old Boy. Lady Vingança finaliza a chamada trilogia da vingança (Old Boy é o segundo, Mister Vingança o primeiro). Não espere a mesma frieza horripilante do primeiro, ou a violência excessiva e cativante do segundo, Lady transforma a vingança em um conceito de valores e arte. Geum-já passou os últimos treze anos na cadeia por um crime que não cometeu, matar uma criança, ela passa esse tempo todo planejando como só uma mulher seria capaz, a vingança que realizará. Desde a arma que usará ate as pessoas que manipulará. Porém, diferente dos homens loucos por vingança e sangue, Geum-já não quer só vingança, quer redenção. A direção artística desse filme e sua fotografia são estonteantes, um show a parte vindo da Coréia do Sul. A trama, cheia de reviravoltas também é ótima. E não se engane com as cores e a beleza, a frieza e a crueldade sempre farão parte da vingança, ainda mais a vingança de uma mulher.
6º Lugar – Funny Games (Violência Gratuita)
É um remake. Quadro a quadro. Idêntico ao filme original. A única coisa que muda são os atores, um pouquinho da trilha sonora, até a casa parece a mesma. Aliás, os atores são justamente o problema, Naomi Watts (que eu não consigo ver além de King Kong), Tim Roth (decadente antes mesmo da violência começar) e Michael Pitti (insuportável, o que é bom e ruim ao mesmo tempo para seu papel de maníaco doentio com bons modos). A história é a mesma de dez anos atrás: família feliz vai pra casa de campo, o vizinho pede ovos, o vizinho espanca o vizinho, seqüestra a família dentro da própria casa e começa uma tortura física e psicológica angustiante e tenebrosa. O filme é um exercício de cinema. E uma interessante discussão do papel e dos limites da ficção, da cumplicidade do espectador. Inclusive, no final do filme, os personagens discutem textualmente sobre a ficção como um correspondente do real. Merece mais um remake daqui a 10 anos.
5º Lugar – Diary of the Deads (Diário dos Mortos)
Quem não conhece George Romero, deveria ir atrás dele na Wikipedia agora. Ele só é o responsável pelos filmes de zumbis como eles são. Tipos como Extermínio e Resident Evil são praticamente filhos bastardos dele. Diário dos Mortos faz parte de seus filhos assumidos. E ao contrário do chatinho Terra dos Mortos, Diário dos Mortos é realmente muito bom. Romero nunca utiliza zumbis para mostrar em tela sangue e carnificina sem sentido, e sim criticar a sociedade e seus valores de alienação, consumo, preconceitos e ignorância. No filme, um grupo de estudantes de cinema é informado que o mundo esta tomado por zumbis durante a gravação de uma ficção de terror no meio da floresta. No caminho para tentar se manter seguros e vivos, os jovens resolvem fazer um documentário sobre o evento. Cheio de reviravoltas e um final triste e bastante questionador como todo o filme de Romero é. Diário usa de elementos modernos e um elenco jovem e talentoso.
4º Lugar – Zombie Strippers (Zombie Strippers)
Ok, mais um filme de zumbis. Mas esse é muito diferente, galera, então presta atenção um pouquinho. Zombie Strippers é um filme tosco, roteiro doido, super anos 70. E se torna um filme muito bom exatamente por isso. Zombie se passa alguns anos no futuro, quando George W. Bush é reeleito pela 4ª vez, sua filha faz parte do supremo, os EUA tem guerra com meio mundo e com a falta de soldados, é autorizada a pesquisa para se conseguir o soldado perfeito, um soro que no fim das contas traz os mortos de volta a vida. No laboratório o vírus sai de controle, e través de um recruta, vai parar num clube de strippers ilegal (a nudez é proibida pelo Supremo), porém, o efeito nas mulheres é diferente, e as gostosas strippers do local se tornam super-strippers, mas que nem por isso deixam de desejar carne. O lugar bomba e a grana entra, mas o caos começa a imperar total. Uma grande homenagem aos grandes filmes trash de terror. Destaque para a cena do confronto entre as zumbis boazudas e os soldados.
3º Lugar – Les Chansons d’Amour (As Canções de Amor)
Eu sinceramente havia perdido as esperanças com musicais. Ate ter assistido Les Chansons d’Amour. Cristophe Honoré enfatiza de uma forma que choca por ser tão introspectiva e ao mesmo tempo real, a dor e o recomeço. Temos nesse filme a complexidade do sentimento e a forma de se lidar com a dor. Não gostaria de falar da trama de Les Chansons d’Amour, pois não importa o quanto eu a exalte, vai lhe parecer simples. Temos um triângulo amoroso de jovens (Ismael, Julie e Alice), que se desfaz com a morte de Julie, o verdadeiro amor de Ismael. Logo, o filme passa a tratar da perda amorosa. Ismael vagueia sozinho em sua dor e em sua forma própria de lidar com ela, e acredite quando eu digo, é quase impossível não mergulhar junto com Ismael (o muito talentoso Louis Garrel) em seu sofrimento, exatamente por retratar tão bem como nos sentimos a perda de um amor. Ate que o sofrimento romântico de Ismael vai de encontro a um novo personagem, que lhe mostrará um recomeço e um outro caminho, sem precisar se desprender daquilo que ele já sentiu e viveu. Com musicas de Alex Beupain, não há estardalhaço ou coreografias, as doces musicas simplesmente transformam o diálogo em poesia. Um presente da nova Nouvelle Vague.
2º Lugar – Saibogujiman kwenchana (I’m a Cyborg, But That’s Ok)
Uma das experiências mais bizarras, divertidas, românticas, emocionantes e coloridas que você pode ter com um filme. É um filme feliz, mesmo que o tons sombrios percorram suas telas de vez em quando pra alimentar a trama com elementos desconhecidos. Sim, ainda são feitos muitos filmes bons tratando sobre a felicidade. Para quem gosta de O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, este é bem parecido e muito diferente ao mesmo tempo. É um Amelie Poulain feito no manicômio. No filme, Cha é uma jovem internada num hospital psiquiátrico por achar que é um cyborg, ela recusa comida, preferindo apenas recarregar suas baterias imaginárias. A jovem também usa a dentadura da avó e se comunica com todos os aparelhos eletrônicos. No hospital, conhecemos vários personagens, loucos, cada um com sua mania, mas todos atormentados pelo intrigante e anti-social Park, que se considera capaz de roubar o dom das pessoas (e o pior é que os loucos acreditam que ele rouba mesmo). Cha e Park se envolvem num romance conturbado e lindo, mas a saúde dela só piora. Com um estilo impecavelmente cativante e visualmente fantástico, I’m a Cyborg é uma obra prima coreana. Os devaneios de Cha e Park são lindos, emocionantes e sangrentos e o final, junto a revelação do objetivo do cyborg Cha na Terra, é doce e dá uma sensação de tomar banho de chuva para depois ver o sol nascer.
1º Lugar – Blood Car (Carro a Sangue)
Eu só soube da existência desse filme quando li a programação do Cine Indie Circuito desse ano, que apresenta uma série de filmes bons e ruins. Só que Blood Car não é nem bom nem ruim, é genial. Num futuro próximo, a gasolina é um bem muito caro, caminhões pararam de rodar, a economia entrou em recessão. Quem tem carro é playboy e pega toda mulher que quiser. Archie é um jovem professor do ensino infantil numa escola pública de uma cidade pequena, é vegetariano e tenta fazer seu motor experimental funcionar com ervas daninhas, porém, num acidente, descobre que seu carro funciona muito bem a sangue. Archie se torna um dos poucos a dirigir um carro, atraindo a atenção da obcecada por sexo Denise. Mas como carros movidos a sangue não andam sozinhos, eles precisam de mais sangue. As sacadas de como o capitalismo, o poder, e o sexo destroem até o mais nobre dos homens são incríveis e de se mijar de rir. A cena de Archie matando agentes do governo enquanto esta imundo de sangue e indo em seguida para um restaurante comer carne crua gritando “I am vegan”, se torna um clássico. Blood Car é também uma ótima homenagem aos filmes grindhouse, ao trash, sua produção é agradável, mas você sente isso ao longe. A cena final é impactante e hilária.
Rá, assisti REC e quase me borrei todo, é foda!
ResponderExcluirIncrível como tem tanto filme bacana rolando e a maioria de nós abitolados pelas bobagens que saem na Tela Quente.
ResponderExcluirBoas recomendações e vou querer algum deles emprestados!
Sei que tu não gosta de emprestar mas não custa nada pedir. HAUAUAHUAHUAHUHAUHAUHAUAH
Bjusmeligasóanoquevem!!!
eu quase me borrei tbm assistindo Rec...
ResponderExcluirde dia, com o sol brilhando e janelas abertas
hahaha
Bom, eu tinha visto uma matéria similar em um site nerd, sobre 19 filmes que não vimos.. mas sim são posts diferentes, o deles é baseado nos filmes menos locados em 2008 (não se tratando de filmes velhos) e eu realmente não tinha visto nenhum!
ResponderExcluirJá no seu, eu tb vi rec.. e achei uma merda, pq eu tinha visto recentemente o último resident evil (tá massa), então achei rec previsível e com final clichê.
Quando vi Mandando bala, tinha o trailer do Zombie Strippers, e concordo contigo 'B'.. 'D'
mas no seu top de hj deu curiosidade pra ver outros.
Me cansa vir aqui e ver estes comentários metidos a críticos cinematográficos, especialmente quando não há, no autor (do comentário), a capacidade de escrever um post com a mesma qualidade que vc escreve.
ResponderExcluirPelo menos agora estamos nos limitando a um comentariozinho pejorativo (não sei porque não fico surpresa?) do que um post logo acima do seu!!!
Ademais desta quase "diversão sórdida" que tenho, em avaliar certas "mentes"... adorei seu post e estou aguardando nossa sessão cinema... assim quem sabe melhoro ainda mais a qualidade de minhas observações!
Vou ser bem conciso e explícito.
ResponderExcluir1º Meu amigo, apesar do péssimo gosto pra filmes (não estou falando desses) na hora de escrever sobre eles você é fodastico.
2° Tirando os de zumbis, quero assistir todos. Então vamos aproveitar que semana que vem estamos de férias, e marcar logo essa sessão de cinema.
3º A Miriane só fala merda.
4º A Miriane só fala merda.
É isso.
Não exatamente nessa mesma ordem x)
Bryce, vc é o cara!!!!!
ResponderExcluirp.s.: e eu assino onde tiver que assinar, em baixo, em cima, ao lado!!! rsrsrsrs