sexta-feira, maio 15, 2009

É cafona... Mas é bonito!

Biografia de Renato Russo apresenta perfil bem delineado do líder musical: poeta-músico-sonhador

Renato Russo, o trovador solitário

Giselle Lucena

Não é espetáculo teatral, cinema ou festival de música. Mas bem que a história poderia render uma peça, um roteiro e certamente, de trilhas sonoras estaria com recheio duplo. O personagem principal é Renato Russo, mas o enredo não é de Faroeste Caboclo ou Eduardo e Mônica. Em “O Trovador Solitário” (Ediouro), o vocalista de uma das mais populares bandas de rock do país aparece num perfil bem delineado: um poeta-músico-sonhador, do tipo que sofre, traduz a vida nas canções e não desiste de correr atrás dos sonhos – seja lá o que isso implique.

Legião Urbana - uma das bandas de rock mais populares do país

A biografia escrita por Arthur Dapieve, mostra um Renato Russo intelectual, não apenas um revolucionário roqueiro rebelde; não apenas mais um na lista dos “bons que morrem jovens”; homossexual e que tinha Aids. Renato Manfredini Jr. também foi professor de cultura inglesa, fã de música clássica e integrante de banda fictícia. O livro conta a vida do músico simultaneamente à produção dos discos da Legião Urbana, de temáticas políticas, pessoais, românticas, universais. O leitor que tem ou teve uma banda entenderá muita coisa com mais facilidade; aquele que nunca teve, ficará louco para montar um grupo musical e entrar numa turnê.

O autor, Arthur Dapieve, é crítico musical, vice-reitor acadêmico e professor de Jornalismo da PUC-RJ. Também escreveu BRock: O rock brasileiro dos anos 80 (Editora 34), entre outros.

Respeito e ética: permitido para menores

Autor da biografia é jornalista é crítico musical

Mas como é escrever a história de um músico que não se sentia à vontade para tratar de temas como identidade sexual, dada a enorme parcela de crianças entre os seus fãs? Sobre alguém que tinha perfeita consciência da responsabilidade social de um artista? Para produzir a biografia, o jornalista Arthur Dapieve ficou atento às preocupações de Renato Russo e uniu ética jornalística e respeito ao músico que se sentia desconfortável no papel de novo porta-voz da juventude. Dapieve integrou a mesa redonda sobre Música, durante o I Congresso de Jornalismo Cultural realizado pela Revista Cult, em São Paulo, no início de maio. Na oportunidade, fiz algumas perguntas ao escritor, confira:

Quanto tempo foi gasto para a produção do livro, desde a pesquisa até a publicação?

Arthur Dapieve: O tempo entre a pesquisa propriamente para o livro e a publicação foi muito rápido, porque fez parte de uma coleção em que os livros eram produzidos em seis meses, e eu o escrevi em sete. Mas sem saber, iniciei essa pesquisa desde que comecei a escutar a Legião Urbana, que foi mais ou menos na mesma época em que eu estava começando como jornalista. Portanto, o primeiro show eu fui apenas como ouvinte, já o segundo já fui cobrindo. Eu não tinha como saber que todo aquele material iria um dia me servir como matéria de pesquisa, mas quando me convidaram para escrever a biografia do Renato Russo, eu aceitei, já tinha muito material e muitas entrevistas gravadas com ele que não foram aproveitadas por completo.

Então, o livro é em grande parte fundamentado em fitas com entrevistas que você mesmo fez com o músico. Mas foi preciso fazer visitas à casa do Renato, contato com os familiares e amigos?

Arthur Dapieve: Sim, a maior parte das declarações do Renato Russo no livro foi prestada exclusivamente para mim. Também fiz uma rodada de entrevistas com familiares, amigos que também eram artistas como o Leo Jaime; com o pessoal que tocou com ele e aqueles que foram músicos de apoio da Legião.

Mas para escrever uma biografia de alguém tão popular, como selecionar as fontes mais confiáveis entre as tantas disponíveis?

Arthur Dapieve:
Não só as mais confiáveis, mas aquelas que... Bem, eu queria fazer um perfil artístico, então não me interessava muito o amigo que era amigo de farra, a parte privada da vida do Renato não me interessava muito porque é uma parte que ele sempre procurou manter privada, e eu me sentiria traindo um personagem que eu conheci se eu tornasse o livro sensacionalista ou algo parecido. Então isso me impulsionou como um norte, pessoas que trabalharam com ele e que tiveram uma representatividade que não seja só porque trabalharam com ele. Então fiz umas 17 entrevistas complementares, em relação àquelas que eu já tinha feito com o músico.

Tendo como foco a vida profissional do artista, muita coisa já é eliminada. No entanto algumas questões pessoais são indispensáveis na história. Teve algo que o fez ponderar no meio do caminho: “eu publico ou não publico isso”?

Arthur Dapieve: Não, porque até coisas que eu já sabia e que poderiam estar em outro livro eu decidi que não estariam nesse. Na noite de autógrafos no Rio de Janeiro eu respirei aliviado ao ver a quantidade de crianças que estava na fila. O Renato tinha muita preocupação em fazer músicas sem palavrão, para crianças, então eu acertei: ‘esse público aí vai ser contemplado’. E o público da Legião tem uma relação muito estreita com a banda, eles seriam os primeiros a rechaçar o livro se eu tivesse sido antiético, porque a Legião é, sobretudo, sobre ética.

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Quer saber mais sobre o I Congresso de Jornalismo Cultural? Visite: http://paripassuac.blogspot.com/

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